terça-feira, 30 de abril de 2013

ALUNOS DA TURMA DE LIBRAS


OS SONHOS DOS ALUNOS 
DA TURMA  DE LIBRAS DE ROSANE GORGES



Se a vida na escola fosse uma vida de adivinhações
Talvez, assim, Santos Dumont[1] não teria voado
Nem Shakespeare[2] escrito Romeu e Julieta

Outro dia perguntaram-me:
Professora, o que é a escola?
A escola é uma escada
É o riso, é o choro de Carlitos[3]

A escola é esse quadro do dia a dia
Os espaços e as pessoas
Os sonhos e as alegrias

Se Karolyne quer trabalhar com informática
Alana quer ser cabeleireira
Se Alessandra administradora de empresas
Cintya também quer fazer Administração
E Cloves Contabilidade
Se Jefferson quer ser mecânico
Mas a Karolina não sabe o que quer ser
Se Micheli quer ser veterinária
E Jheniffer quer ser atriz de novela
Se Wellington quer se dedicar às mecânicas diversas
Cíntia talvez não saiba o que vai ser

E se perguntássemos o que foram?
Bebês que choraram sem ouvir o próprio choro
Quem sabe um eco, quem sabe um som

Eles são eles com a língua de sinais
únicos em suas singularidades
que os une e são cúmplices e inseparáveis

Eles dançam, eles riem, 
eles gesticulam suas emoções
Eles contam, somam, 
subtraem, multiplicam e dividem
Eles não aprenderam uma língua, 
aprenderam duas
Eles observam, 
percebendo as diferenças e as semelhanças

Fazer prognóstico de alunos é uma areia movediça
Já dizia o propedêutico professor de Pitágoras[4]
Que a matemática aprende-se com tabuada
Que a língua aprende-se com escrita e leitura
E a ciência é porque precisamos nos conhecer
A educação física não se resume apenas em jogos
A história é o que nos faz viajar na máquina do tempo
E a geografia desenha os lugares e as pessoas
A arte é porque ser humano só não basta, segundo Gullar[5]





[1] O pai da aviação brasileira, inventor brasileiro (1873-1932). Pioneiro em voo em balões dirigíveis e o primeiro a decolar em um avião a gasolina.
[2] Dramaturgo inglês (1564-1616).
[3] Personagem popularizado pelo ator britânico Charlie Chaplin (1889-1977).
[4] Grego (571-570 a.C) professor de filosofia e matemática. Autor do famoso teorema que leva o seu nome, isto é, a2 = b2 + c2 – em um triângulo retângulo, o quadrado da hipotenusa é igual a soma dos quadrados dos catetos.
[5] Ferreira Gullar (1930-), poeta maranhense radicado no Rio de Janeiro. Participou do movimento concretista e escreveu, entre outros títulos, “Poema sujo” quando exilado, voluntariamente, na Argentina durante o último regime militar.